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Brasil

Dia Nacional do Samba: longe dos rankings, perto de quem ama

Mesmo fora de listas de mais ouvidos e tocados, gênero persiste como aglutinador e cumpridor de função social como nenhum outro ritmo

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Duas crianças negras batucando em instrumentos de percussão
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O Dia Nacional do Samba é celebrado em todo 2 de dezembro. O último mês do ano também marca a divulgação dos vários rankings de músicas e gêneros mais ouvidos no país durante os 12 meses. Nessas listas, um dos ritmos mais populares não figura nas primeiras colocações há anos, suplantado pelo sertanejo - e o canhão de dinheiro que é investido no gênero. 

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Se o samba está longe dos rankings de plataformas de streaming e rádios, eventos Brasil afora mostram que o ritmo e seus derivados continuam populares. "Numanice" e "Tardezinha", espetáculos de pagode comandados por Ludmilla e Thiaguinho, respectivamente, têm levado multidões a arenas e estádios pelo país, com ingressos disputadíssimos e que se esgotam em poucos minutos. 

Nos dois casos acima, o repertório se atualiza - sobretudo com Ludmilla, de sólida carreira no funk em um mercado dominado por homens pagodeiros -, mas permanece com um pé na nostalgia: Thiaguinho fez parte do Exaltasamba, ao lado de Péricles, e o "Tardezinha" resgata clássicos que o grupo popularizou. 

Iluminando pensamentos e amores

A memória afetiva dos anos de glória do pagode, nas décadas de 1990 e 2000, contribuem para a manutenção de uma popularidade que não se traduz nos rankings e, ainda que com novidades, é um motor importante para a indústria: o grupo Soweto, com o vocalista Belo, voltará aos palcos para celebrar 30 anos de carreira e rodará o Brasil.  

Outro ícone do "pagode 90", Xande de Pilares, ex-Grupo Revelação, deu ao samba uma contribuição que fez valer os vários prêmios recebidos em 2023. Em "Xande canta Caetano", gravado em 2021 e lançado nesse ano, as músicas de Caetano Veloso em forma de samba mostram que o gênero é intrinsecamente popular e mutável. "Luminoso", "brilhante": adjetivos não faltam ao álbum que lançou luz ao gênero em pleno 2023, dominado por outros ritmos. 

Junto dos shows que lotam estádios, eventos semanais e mensais de samba e pagode se tornaram aquilombamentos de um ritmo. Em São Paulo, por exemplo, encontros mensais como o "Quintal dos Prettos", "Poeira Pura" e "A Domingueira" fazem o público se jogar no samba, valorizando as raízes e ancestralidades do gênero. O samba, genuinamente preto, encontra nesses encontros um resgate e uma conexão que vai além da mera apresentação musical, demonstrando o potencial aglutinador de pessoas que o ritmo oferece.

Tradição que continua firme no pedaço

Já o samba-enredo, tônica do desfile das escolas de samba, enfrenta um dilema: manter e honrar as tradições enquanto o espetáculo é transformado em negócio. A grande questão enfrentada pelas agremiações é se a possível junção dessas duas situações pode engrandecer ou aniquilar a festa.

Os sambas-enredo, nas décadas de 1980 e 1990, tocavam em rádios, mostrando a força do gênero. Não à toa, é desse período que clássicos como "Peguei um Ita no Norte", popularmente conhecido como "Explode coração", do Salgueiro, em 1993; "Atrás da Verde e Rosa só não vai quem já morreu", da Mangueira, em 1994; ou "Coisa Boa é Para Sempre?, da Gaviões da Fiel, em 1995, permanecem guardados na memória até hoje.

Restritos ao streaming e aos componentes e torcedores de escolas de samba, os sambas-enredo já não possuem a mesma popularidade e, tampouco, a qualidade que gerou clássicos. Muitas vezes engessados, algumas vezes encaixotados em temas de gosto duvidoso, o gênero resiste anualmente nas quadras e sambódromos, mas sem a espontaneidade e emoção tão pertinentes à "grande ópera a céu aberto", salvo raras exceções. 

Popularmente reconhecido e especificamente ouvido, o samba persiste em lembrar que, apesar das dificuldades atualmente enfrentadas, ele se fará presente como o maior elemento cultural do país, seja no estádio lotado, no terreiro ancestral, no cantar com emoção ou, simplesmente, no batucar em uma caixa de fósforo. 

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