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O cotidiano da vida pelo mundo, sob olhar do correspondente do SBT e SBT News em Londres, Sérgio Utsch

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O câncer do Rei e o câncer dos plebeus

Nem o Reino Unido, um dos países mais ricos do mundo, consegue tratar todos os seus doentes a tempo

O câncer do Rei e o câncer dos plebeus

07/02/2024 às 13:01

O elogio à decisão do Rei Charles III de tornar público o seu diagnóstico de câncer foi uma unanimidade entre os especialistas.

+ Rei Charles III está tratando câncer, diz Palácio de Buckingham

O monarca não só quebrou uma tradição da Família Real, que sempre manteve no círculo privado os assuntos de saúde, mas também chamou a atenção para uma doença diagnosticada em 1 mil britânicos diariamente.

Apesar da confirmação de que o Rei Chales III tem “uma forma de câncer”, o comunicado do Palácio de Buckingham não forneceu mais detalhes, mas há várias pistas de que a doença “foi descoberta cedo”, como afirmou o primeiro-ministro Rishi Sunak.

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Descobrir esta ou outras doenças em seu estágio inicial só é possível para quem tem o hábito e condições de fazer exames regulares, algo que é cada vez mais difícil no sistema público de saúde do Reino Unido.

Fiz uma pausa neste texto para ligar para o meu posto de saúde e solicitar uma consulta com o meu médico. Só há vagas para o final de março.

No Reino Unido, é preciso passar pelo médico generalista do posto no qual você é cadastrado para ter acesso a exames e especialistas. Só casos de urgência são atendidos mais rapidamente.

No caso do câncer, 35% dos britânicos esperam mais do que 62 dias pra iniciar o tratamento no NHS, o "SUS do Reino Unido".

A informação foi revelada pelo jornal The Guardian. A meta é que a espera superior a 2 meses não ultrapasse 15% dos pacientes.

O Palácio de Buckingham não confirmou se o Rei está sendo tratado pelo NHS ou por uma instituição privada. Seja qual for a opção, Charles III terá um tratamento melhor e mais rápido do que a grande maioria dos seus súditos.

Comunicado oficial da Família Real sobre o câncer do Rei Charles | Reprodução/Palacio de Buckingham/Facebook
Comunicado oficial da Família Real sobre o câncer do Rei Charles | Reprodução/Palacio de Buckingham/Facebook

O câncer de Charles III foi descoberto quando ele fazia um procedimento na próstata que, garantiu o Palácio, não é o órgão afetado pelo câncer.

Assim que a notícia foi divulgada, o site do NHS registrou um aumento significativo na procura por informações sobre este tipo de tumor, que é o que mais afeta a população masculina. Houve uma procura a cada cinco segundos.

Muitos dos que ficaram em dúvida não vão conseguir marcar um exame rápido. E muitos dos que descobrirem o câncer, na próstata ou em outros órgãos, não vão iniciar seu tratamento no tempo recomendado pelos médicos porque não há estrutura nem profissionais suficientes pra isso.

1 em cada 5 pessoas pode ter câncer

A decisão do Rei expôs um problema comum a milhões de pessoas.

A Agência Internacional de Pesquisa sobre o Câncer (IARC), vinculada à Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que houve 20 milhões de novos casos e 9,7 milhões de mortes em 2022. 1 em cada 5 pessoas desenvolverá câncer durante a vida.

O diagnóstico do câncer de Charles III prova que ninguém está livre desse mal, mas, ao mesmo tempo, lembra que nem em um dos países mais ricos do mundo, como o Reino Unido, as chances de tratamento e sobrevivência são iguais entre as vítimas da doença. Pouquíssimos terão um tratamento de Rei.

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